11 outubro, 2011

Como é viver por trás de um birô.


Tudo passa a ser nuvens brancas como plumas à espera do toque de mãos leves e macias.

Para a maioria daqueles que se dizem homens da educação, estar acima de uma categoria é achar que tudo pode. Que é possível fazer um trabalho diferente mesmo com poucas ou nenhuma condição de recursos que permita ao professor “executar” uma aula de qualidade.

O professor que não consegue fazer de uma sala esburacada, sem mesas, sem carteiras suficientes para os alunos sentirem o mínimo de conforto possível, um âmbito agradável para a aplicação de suas aulas, não é capaz de exercer a função a qual escolheu estar. Assim dizem os que estão por trás do birô.

Porém se escalpelam em medos quando se fala em um dia, voltar à sala de aula. Para eles seria um suplício já que a filosofia permite-lhes o dom da fala e o poder de dizer quem é bom ou ruim, quem não é capaz, quem não consegue, mas sabem que se um dia se encontrarem na mesma situação, talvez sequer, consigam fazer igual aos que outrora julgaram.

Mesmo podendo e tendo a oportunidade de fazer a diferença preferem dizer que outros são incapazes, ao invés de possibilitar condições de conforto aos seus subordinados para que exerçam qualitativamente suas funções os julgam tachando de incompetentes, porém esquecem-se que são os principais responsáveis por começar a trilhar o caminho da mudança, de possibilitar ao outro a condição de igualdade, de poder fazer com qualidade porque não lhes falta recursos, de poder usufruir de possibilidades favoráveis à uma oferta de um trabalho responsável. Mas nada. O bom mesmo é apontar o dedo e dizer: não fazem porque não têm competência para a função que exercem.

Pergunto: o que eles fazem atrás de um birô?

Estão preocupados apenas com o último dia do mês. Se a comparação puder se estender, a maioria dos professores faz a mesma coisa. Por quê? Ora, se eles estão lá e nada fazem para melhorar, o que eu posso fazer? Somente a mesma coisa. Nada. Pobres professores. Como castigo, o passar dos dias, problemas de saúde, o envelhecimento precoce, sim, porque a atrofia dos nervos se aninha às acomodações físicas pelo pouco esforço exercido ao sentarem no meio da porta da sala de aula e ficar folheando “revistas de compra de produtos de beleza”, no meio da porta para que os alunos permaneçam no interior da sala, mesmo numa algazarra, no ócio das atividades, porque o plano, ah, o plano é flexível. Enquanto isso, alunos se engalfinham, trocam socos, quebram carteiras, ferem os outros à unhadas, a lápis, e a(o) professor(a)? ah, fazendo o “pedido” do lápis de sombra, do livro dos sonhos, sim porque essas “revistas” já oferecem uma biblioteca de temas curiosos como: a mulher que trai o esposo... e vice-versa, as 10 faces do amor..., como conquistar um(a) parceiro(a)..., e muito mais. Poucas obras são apresentadas para o contexto escolar, mas... Ah! E quem vende!? “Surpreenda-se” se ainda for possível. A própria professora.

Isso é um desabafo? Bem, alguns sem compromissos dirão que minha intenção é ocupar o lugar atrás do birô, porque morro de inveja, outros, que só quero aparecer, me achando melhor que os colegas.

Salve-se quem puder. Estou preocupado com a educação de minha filha. Quem será o professor da mesma se ela tem apenas dois anos de idade? Os alunos que aprenderam com professores folheando revistas na porta da sala?

Que inveja se pode ter dessas circunstâncias?

Alguém queira fazer alguma coisa para mudar a educação. Na verdade, não é a educação que se precisa mudar, mas muitos que se dizem profissionais dela.

Aos que estão atrás dos birôs, exerçam suas funções. Repreenda-me até descontando de meu salário a minha incompetência cada vez que eu ficar na porta da sala folheando revistas, cada dia que eu falte à sala porque comprei um atestado médico.

Puna-me enquanto é cedo. Com isso, quem precisa mudar, é mesmo a Educação?

Execrem-se as más condições de trabalho, as péssimas estruturas escolares, os maus profissionais, punam-nos por suas falhas inexplicáveis e abomináveis. Façam algo que revolucione o processo educativo que aí está. Ou, sintam-se convidados a contiverem-se às suas insignificâncias e a abandonar a cadeira do birô. Se não são capazes de melhorar, o que fazem atrás desses birôs? Sintam-se envergonhados ao olharem no espelho e perguntem-se: para que me serve este birô?

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